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Rihanna e a discussão crucial sobre o balanço entre vida pessoal e profissional.

O fenômeno é um, Rihanna aparece grávida trabalhando. Mas não era qualquer posição que ela ocupava, a cantora subiu mais uma vez aos palcos depois de sete anos afastada dos holofotes para cantar no intervalo do Super Bowl.


Considerado uma das maiores projeções de mídia da atualidade, participar deste evento é tão relevante para carreira de um artista que eles sequer são remunerados para fazê-lo. É claro que o retorno vem de outras formas, seja o aumento de visibilidade, engajamento em redes sociais, venda de produtos ou mesmo ingressos para futuros shows, de alguma forma, estar presente no Super Bowl costuma valer a pena.



Neste contexto, um ponto que chamou a atenção de todos e deu o que falar na mídia foi o anúncio de sua gravidez. Uma mulher grávida trabalhando não é algo exatamente surpreendente, mas uma diva pop cantando e performando, grávida, em meio a este enorme espaço de visibilidade pública é algo que realmente provoca opiniões. Um tópico que se destacou claramente foi a discussão sobre a representação da maternidade, os espaços que ocupam aquelas que são mães e, principalmente, o desafio cotidiano de equilibrar demandas, expectativas e desejos, tanto pessoais quanto profissionais.


Na mídia, o exemplo de Rihanna é colocado como uma referência feminina. Uma mulher que mostra toda sua potência profissional e não se limita ou acanha frente à maternidade. Pelo contrário, ela a enalteceu, usando de toda a sua potência e brilhando em um dos palcos mais famosos do mundo, mostrando a todos que trabalho e maternidade são caminhos que não precisam ser trilhados separadamente.


Simbolicamente, o exemplo da Rihanna serve para desmistificar a maneira como ainda hoje enxergamos a maternidade. Ao ocupar este espaço, a artista age como exemplo de que as mulheres não devem se limitar profissionalmente pelo exercício da maternidade e isso por si só é muito relevante. As figuras de inspiração nos ajudam a desafiar status quo, ampliar perspectivas e nutrir sonhos que promovem mudanças sustentáveis na sociedade.


Mas ao mesmo tempo, outros comentários nas redes sociais surgiram a partir desta visão, afinal, para tristeza de seus fãs, estava claro que o tão sonhado retorno aos palcos da artista teria que ficar para depois. A pergunta que surgiu então, quase que automaticamente, foi: Quantas mulheres podem escolher como irão gerenciar suas carreiras para dedicar-se também à maternidade?


Quantas podem viver esta relação, sem ter de se preocupar com questões financeiras ou temer a rejeição de um mercado preconceituoso que questiona profissionais que ficam afastados de seus cargos para cuidar de questões pessoais? No caso da Rihanna, sabemos que a decisão de se afastar dos palcos veio muito antes da maternidade e que ela se manteve este tempo todo profissionalmente atuante em outras áreas. Mas a verdade é que, no seu caso, talvez seja mais fácil não ceder à pressão de produzir algo novo e ter que atender as expectativas que são colocadas sobre ela no ramo da música.


Neste texto não vou aprofundar outras questões que podem surgir como desafios associados à parentalidade, ou aspectos que influenciam diretamente a maneira como a relação com a maternidade é vivida (rede de apoio, saúde mental, recursos, etc). Mas focando especificamente neste ponto, sobre a pressão por produtividade e o difícil equilíbrio entre maternidade e carreira, entendo que ambas as visões são importantes.


Sim, Rihanna grávida no palco do Super Bowl é incrível e um exemplo que tem relevância na transformação social que buscamos. Mas ela é, sim, uma exceção à regra. A pergunta que fica pra mim então é a seguinte: Como podemos garantir que mais mulheres possam viver a relação com a maternidade de forma mais justa e equilibrada? Como conciliar crescimento profissional e performance de forma saudável com a escolha de ter filhos?


Pensando nas organizações, acho que podemos prever ao menos 3 níveis de transformação:


  1. Mudança de Mindset: Discutir sobre parentalidade e fomentar o diálogo entre pessoas com e sem filhos pode ajudar a criar um ambiente mais acolhedor e empático para aqueles que lidam com este desafio cotidianamente;

  2. Rede de Segurança: Formar a liderança para que sejam capazes de criar uma ambiente de segurança psicológica, para que saibam dialogar sobre este assunto evitando sucumbir aos seus próprios vieses de gênero e treiná-los para o exercício de uma liderança inclusiva;

  3. Novas Práticas e Rotinas: Investir em ações que não são novidade no mercado, mas ainda são pouco praticadas como a semana de 4 dias, rotinas com maior flexibilidade e autonomia, o trabalho remoto e novas propostas de licença, como a flexibilidade parental, são todas iniciativas que podem promover um ambiente mais acolhedor para aqueles que vivem esta relação ao permitir uma melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional.


Seja qual for o investimento que seja feito, o primeiro passo sem dúvida deve ser o de desmistificar a relação entre a maternidade e o profissionalismo de uma mulher.


Considero ainda que esta discussão não deve se limitar às gestantes e nem tampouco às mulheres. Estamos falando da importância de se exercer a parentalidade de forma saudável, sem ter que abdicar desta escolha para se garantir outra, como a sua posição no mercado de trabalho.


Rihanna não foi nem a primeira, nem será a última mulher a atuar profissionalmente estando grávida, e diversos outros casos são representantes da ocupação do espaço público pelas mães. Então se em algum momento você percebe que também exerce algum tipo de julgamento sobre a atuação dessas mulheres, que tal aproveitar para rever seus próprios vieses e refletir sobre como você pode apoiar esta transformação social, hoje?

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