Mais do que um estilo de liderança, as ações de recompensa ou punição devem ser usadas de forma estratégica, direcionando a sua equipe da melhor forma possível.
Entender as bases do comportamento humano é fundamental para trabalhar o engajamento e motivação da sua equipe de maneira eficiente.
O que as pesquisas em Neurociência sugerem é que em se tratando de motivar as pessoas para uma determinada ação a recompensa é considerada uma estratégia mais eficiente do que a punição. Por outro lado, se o objetivo for impedir determinados comportamentos a estratégia de punição se torna mais eficiente.
Recompensa e punição são duas palavras que conhecemos bem, principalmente quando pensamos no ambiente de trabalho. Essa dinâmica na verdade é baseada num conceito antigo de que os seres vivos buscariam ativamente aumentar seus ganhos e diminuir suas perdas. No séc. XVIII o filósofo Jeremy Bentham descreveu que “A dor e o prazer nos governam em tudo o que fazemos, em tudo o que dizemos, em tudo o que pensamos” sugerindo que essa busca teria uma base biológica, um componente emocional por trás de todas as nossas decisões. Com o avanço tecnológico, os estudos em Neurociência foram finalmente capazes de comprovar o que naquela época era apenas uma intuição.
O cérebro possui uma série de regiões especializadas no controle de nossas emoções e que se conectam com praticamente todas as outras áreas do cérebro, de maneira que, todas as nossas ações, pensamentos e decisões são influenciadas por nossos sistemas motivacionais. Mas o que exatamente são esses sistemas motivacionais? Todo nosso comportamento é influenciado pela ativação de dois grandes sistemas, o primeiro conhecido como Sistema Motivacional Apetitivo, é ativado em contextos positivos associados com alimentação, prazer, cuidado com a prole, relações afetivas e qualquer contexto que gere respostas de aproximação. Normalmente queremos estar próximos daquilo que nos faz bem, certo? Então é o sistema apetitivo em ação. O segundo sistema é conhecido como Sistema Motivacional Defensivo e geralmente é ativado em contextos de ameaça a nossa sobrevivência e bem-estar, gerando emoções negativas como medo, ansiedade e estresse. A ativação desse sistema leva a comportamentos de afastamento e evitação. É sempre melhor ficar bem longe daquilo que nos faz mal, concorda?
Em nosso dia a dia, frequentemente utilizamos a ativação desses sistemas, ainda que intuitivamente, para motivar as pessoas ao nosso redor, especialmente no trabalho. Nós prometemos um bônus no salário, uma promoção, damos feedback positivo, tudo para estimular a percepção de prazer, que em última instância leva a ativação dos nossos circuitos de recompensa e do nosso sistema apetitivo. Por outro lado, tentamos também gerar dor através de punições, como descontos no salário, perda de benefícios, demissão e até mesmo uma repreensão em público. Estes estímulos são verdadeiras ameaças e ativam nosso sistema defensivo. A grande pergunta é: para realmente motivar as pessoas, o que seria mais eficiente, punição ou recompensa?
O que as pesquisas em Neurociência sugerem é que em se tratando de motivar as pessoas para uma determinada ação (como se dedicar mais as suas tarefas, adotar um novo comportamento, ser mais comprometido, etc) a recompensa é considerada uma estratégia mais eficiente do que a punição. Por outro lado, se o objetivo for impedir determinados comportamentos (p.e. desencorajar maus hábitos, tais como fofoca, mau-comportamento, retrabalhos, etc) a estratégia de punição se torna mais eficiente.
O motivo principal para a diferença observada na eficácia entre punição e recompensa ocorre devido à natureza da ativação desses sistemas e a forma como nosso cérebro evoluiu. Para obtermos recompensas (seja um pedaço de bolo ou uma promoção), em geral, precisamos tomar alguma atitude, agir. Ao identificarmos uma situação potencial de recompensa, nosso cérebro automaticamente se prepara para a ação. De maneira oposta, ao identificarmos uma ameaça ou possível sinal de perigo, nosso cérebro recebe comandos que inibem a ação. Isso ocorre porque, na maior parte das vezes, evitamos o contato com estímulos negativos através da inibição da ação ou do afastamento ativo do que nos causa dor (seja uma comida ruim ou um chefe arrogante).
Para finalizar, vou te dar um exemplo de como isso ocorre na prática. Um estudo realizado no hospital de Nova Iorque mostrou como a simples inserção de feedbacks positivos conseguiu mudar o comportamento dos funcionários. O objetivo do estudo era aumentar a frequência na qual os funcionários higienizavam suas mãos após contato com os pacientes, visto que a ausência desta prática pode causar a disseminação de doenças. Apesar de serem frequentemente informados a respeito das consequências negativas, apenas 10% dos funcionários lavavam as mãos. Para reverter a situação o hospital colocou placas eletrônicas que davam feedbacks positivos para os funcionários toda vez que eles higienizavam as mãos, através de mensagens como “ Bom trabalho! ”. A intervenção foi capaz de aumentar para 90% a aderência dos funcionários após 4 semanas de sua implementação.
A eficiência da estratégia utilizada pelo hospital foi que, ao invés de usar ameaças ou punições devido à ausência do bom comportamento, baseou-se numa estratégia positiva, de recompensa pela ação desejada. Além disso, o feedback positivo desencadeia a ativação do sistema de recompensa no cérebro, reforçando a ação e tornando mais provável sua repetição no futuro.
Mais do que uma escolha ou um estilo de liderança, as ações de punição ou recompensa devem ser usadas de forma estratégica, direcionando sua equipe da melhor forma possível! Entender as bases do comportamento humano é fundamental para trabalhar o engajamento e motivação da sua equipe de maneira eficiente.
Nós podemos te ajudar neste processo, continue acompanhando o nosso blog 😉
Um abraço e até o próximo post!
* Texto inspirado no artigo "What motivates employees more: rewards or punishments”
da Harvard Business Review.
Comments