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O Fenômeno da Impostora e a crueldade das expectativas sociais

Atualizado: 5 de abr.

Como a Neurociência Organizacional pode nos ajudar a enfrentar o fenômeno da impostora dentro das organizações? Confira agora algumas estratégias!


Mulher com máscara de teatro sentada no chão de um escritório
O fenômeno da impostora acomete pessoas bem sucedidas e reconhecidas publicamente por suas contribuições.

Como a neurociência pode explicar a origem do fenômeno da impostora? Ambientes altamente exigentes, traços psicológicos e desigualdades sociais são todos fatores que contribuem para este fenômeno. E apesar de ainda não se saber ao certo quais seriam os fundamentos neurobiológicos e a sua possível origem evolutiva, há muitas hipóteses. Dentre elas, uma em particular me pareceu interessante que foi a ideia de que este fenômeno seria uma espécie de resposta de ansiedade antecipatória.

“...they believe that they are not as smart or capable as others perceive them.” (Clance e Imes, 1978)


Injusto. É assim que sinto o impacto do chamado Fenômeno da Impostora. Seja comigo ou com outras pessoas que admiro, sinto como se fosse incrivelmente injusto que sentimentos de insegurança e dúvida surjam em relação a nós mesmas em momentos cruciais de nossas vidas.

Comumente observado em mulheres e outros grupos minorizados, este fenômeno pode ter consequências avassaladoras sobre o desempenho profissional de uma pessoa e sua relação consigo mesma. É como se colocassem um aviso luminoso em letras maiúsculas bem na nossa frente dizendo: Você não é boa o suficiente! E o tempo todo, algo ou alguém aponta para este aviso, para nos lembrar que não o somos. E, é ingênuo quem pensa que este fenômeno não acomete pessoas bem-sucedidas e reconhecidas publicamente por suas contribuições. Ao que tudo indica, ninguém está “livre” deste fantasma que assola principalmente as mulheres em meio a uma cultura que busca nada mais, nada menos que a perfeição. 


Do que se trata este fenômeno? Seria uma sina genética ou um efeito do ambiente ao qual estamos submetidas? Sabemos pouco sobre o tema e os processos neurais associados a este fenômeno ainda são desconhecidos. Também pudera, apesar de atingir muitas pessoas, só foi descrito em 1978 e começou a ser valorizado nos estudos acadêmicos nos últimos 10 anos. O Fenômeno da Impostora pode ser descrito como um estado psicológico, no qual pessoas expressam dúvidas sobre suas conquistas e habilidades apesar de terem evidências objetivas ou de outras pessoas indicarem o contrário. E inicialmente pode parecer “frescura” ou falsa modéstia da parte de alguém, mas este fenômeno pode ser tão cruel que essas pessoas, sentem um medo constante de serem expostas como fraude. Além disso, como parte de um ciclo vicioso, essas pessoas sentem-se mais propensas ao fracasso, podem tornar-se menos produtivas e acabam sendo caracterizadas por demonstrar maior insegurança e adotar comportamentos de procrastinação. Em outras palavras, ao sentir que você não é capaz de algo, você acaba adotando de forma inconsciente comportamentos, que prejudicam a sua própria performance. E podem ao final confirmar o que você “já sabia”, que você não é boa o suficiente, ou ainda, tirar de você a chance de tentar provar o contrário! 


Como a neurociência pode explicar a origem desse fenômeno? 


Mulher de terno com olhar cabisbaixo em frente ao espelho
A adoção de comportamentos de fuga e/ou congelamento seria uma forma de reduzir a exposição a um suposto risco de exposição ou julgamento social.

Ambientes altamente exigentes, traços psicológicos (por exemplo, perfeccionismo e/ ou insegurança) e desigualdades sociais são todos fatores que contribuem para este fenômeno. E apesar de ainda não se saber ao certo quais seriam os fundamentos neurobiológicos e a sua possível origem evolutiva, muitas hipóteses têm sido levantadas. Dentre as teorias apresentadas, uma em particular me pareceu interessante que foi a ideia de que este fenômeno seria uma espécie de resposta de ansiedade antecipatória.


Comportamentos associados a este fenômeno seriam decorrentes da ativação de resposta defensiva automática desses indivíduos em relação a uma ameaça em potencial. Desta forma, através da adoção de comportamentos de fuga e/ou congelamento, os mesmos encontrariam formas de reduzir a sua exposição a um suposto risco. Aqui, na minha opinião, estamos falando do risco de exposição e julgamento social. 


Se nunca vejo pessoas como eu nas posições de liderança e poder, e se a sociedade (ou os comportamentos sociais) me constringem e/ou punem continuamente, como sentir segurança para acreditar que eu poderia ocupar algum desses espaços um dia?

Comportamentos associados a este fenômeno seriam decorrentes da ativação de resposta defensiva automática desses indivíduos em relação a uma ameaça em potencial. Desta forma, através da adoção de comportamentos de fuga e/ou congelamento, os mesmos encontrariam formas de reduzir a sua exposição a um suposto risco. Aqui, na minha opinião, estamos falando do risco de exposição e julgamento social.


Pertencer é fundamental para nossa espécie e por isso comumente adotamos diversos comportamentos automáticos que visam favorecer a inclusão em um determinado grupo social. Se trouxermos para esta discussão o que já sabemos sobre o impacto dos vieses inconscientes em nosso comportamento, este modelo faz bastante sentido. Um artigo recente da revista Nature discute que as estruturas sociais são responsáveis por definir aquilo que é sucesso, mas infelizmente, a sociedade hoje representa de forma muito pouco diversa aqueles que possuem poder e acesso aos melhores recursos dentro das instituições.


Essa estrutura, por sua vez, influencia diretamente a origem dos vieses inconscientes, criando associações entre cargos, posições e aspectos como raça, gênero e orientação sexual, por exemplo, e sustenta uma cultura diária de ameaça de estereótipo, microagressões e assédio. Em conjunto, esses fatores irão gerar um impacto negativo na maneira como os grupos sub-representados se sentem, modelando internamente sentimentos de inferioridade, ameaça de estereótipo e é claro, o fenômeno de impostor. Simplificando, se nunca vejo pessoas como eu nas posições de liderança e poder, e se a sociedade (ou os comportamentos sociais) me constringem e/ou punem continuamente, como sentir segurança para acreditar que eu poderia ocupar algum desses espaços um dia?


 Como podemos mudar algo tão crítico e enraizado em nossa cultura?


Este processo todo pode gerar grande estresse e ansiedade nas pessoas que sofrem com o Fenômeno de Impostor e limitar seu potencial. Apenas discutindo de forma ampla e aberta sobre o tema seremos capazes de criar estratégias mais eficientes para reduzir a desigualdade social, promover a inclusão e favorecer a performance e o bem-estar dentro das organizações.


Ao falarmos abertamente sobre o Fenômeno da Impostora, tornamos isso algo comum e deixamos de olhar como se fosse um sinal de fraqueza do indivíduo.


Mas então, por onde começar para mudar algo tão crítico e enraizado em nossa cultura? Pensando especificamente nas mulheres, o que temos visto é que muitas mulheres que sofrem com o Fenômeno da Impostora compartilham algumas estratégias ou experiências em comum que ajudam a superá-lo: 


  • A importância de uma experiência precoce positiva;

  • A gestão de sentimentos de insegurança;

  • A manutenção de um bom equilíbrio de vida pessoal e profissional;

  • Ser capaz de resistir às pressões sociais decorrentes dos vieses (racismo, machismo, etc).


Ações que promovam a visibilidade e o compartilhamento de experiências de mulheres em posições de liderança, como mentorias e fóruns de discussão, permitem que jovens profissionais tenham identificação e sejam inspiradas por outras mulheres que enfrentaram desafios parecidos, aprendendo com suas trajetórias profissionais. Os espaços de troca e acolhimento, permitem que essas mulheres tenham a oportunidade de falar a respeito de como se sentem, aumentando seus sentimentos de pertencimento e dando a essas mulheres a oportunidade para que elas encontrem novas formas de lidar com sua insegurança e autocrítica. Isso é fundamental para que essas mulheres não acabem se auto limitando nos seus processos de desenvolvimento, principalmente profissional. 


Além disso, o aprendizado de habilidades de autogestão também será fundamental para que esta mulher possa manter um bom equilíbrio entre vida profissional e pessoal, evitando os impactos negativos decorrentes de uma rotina desequilibrada, que normalmente culmina com mulheres abandonando suas carreiras profissionais ou desenvolvendo problemas de saúde tanto física quanto mental. Por fim, abordar os preconceitos implícitos e as barreiras sistêmicas no mundo dos negócios é essencial para capacitar e reter as mulheres e, assim, mudar as referências disponíveis hoje. Para isso, é fundamental iniciativas que possam reconhecer a contribuição dessas mulheres e investimentos contínuos em suas carreiras, respeitando as necessidades expressas por diferentes grupos de mulheres e suas diferentes fases da carreira e da vida.  


Ao falarmos abertamente sobre o Fenômeno da Impostora, tornamos isso algo comum e deixamos de olhar como se fosse um sinal de fraqueza do indivíduo. Eu acredito fortemente que a única forma de transformar esta realidade é assumindo como grupo a responsabilidade por isso, ao invés de manter essas mulheres isoladas, lidando com seus próprios desafios emocionais sem qualquer apoio ou orientação. Quanto mais conhecimento e clareza tivermos sobre o assunto, melhores serão os resultados!


E se você deseja saber como a Nemesis Neurociência Organizacional pode ajudar a sua empresa a lidar melhor com desafios como esse, faça contato com a gente por aqui!


Um abraço e até a próxima 😉


Referências:



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